Saturday, October 28, 2006

Na Fradique

Eram pouco mais de 4h da manhã quando ele veio lhe oferecer água e um pouco de Bis (sim, aquele chocolate enrolado no papel azul). Aceitou a água, ainda tímida; pensou em comer também o chocolate, mas lembrou do Brownie daquele começo de noite e nas pequenas gorduras que lhe atormentavam o baixo ventre.
Tímida, sim... porque a mulher madura e bem-resolvida termina na primeira piscada de olho, na primeira prova dos nove, na primeira pessoa. A mulher independente se encerra onde começa primeira curva dos seios pequenos. E ela vestia o sutien envergonhada.
No espelho do banheiro, arrumou os grampos do cabelo com alguma dificuldade, tinha as maçãs do rosto quentes, quase machucadas

"Vou com você até o carro", ele disse.
"Não precisa. Eu sei me cuidar", respondeu

Mas era mentira.

Monday, October 16, 2006

Quero mais.

Duzias de dias sem escrever. Dias de assitir "Diabo Veste Prada" em noite de chuva, e gostar de algumas futilidades do mundo, e de querer jogar o guarda-roupa fora e de tomar capuccino; dias de ficar feliz, e depois triste, e depois feliz de novo; de se sentir livre, de se sentir presa, muito presa. Dias de ficar deprimida com as eleições, de politizar-se, de indagar-se, de indignar-se. Dias de ouvir música francesa. Dias de se trancar no banheiro escuro, de escapar bêbada por entre os corredores de uma lavanderia. De dizer o que vem na cabeça, de pagar-para-ver, de se jogar.

(O desejo é a dança dialética entre machucar e ser machucado)

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"Mon cœur a peur d'être emmuré entre vos tours de glace/ Condamné au bruit des camions qui passent"

Saturday, October 14, 2006

Belle Époque

Na abertura da Bienal, um amigo gay do meio artístico veio dizer que eu tinha uma "aura do século 19". Como assim??? Eu detesto pintura acadêmica, detesto o cientificismo do 19... além do que, eu me considero até moderninha e descolé.

Sexta-feira, um novo insight. Pensei sim, na pintura do 19, mas mais para o final do século... em Cezanne, no amado Gogh e no próprio Lautrec que ilustra meu orkut....

Cena: vilarejo na Provance, 1847. Ele me acorda com concertos para piano. Se veste e vai estudar o comportamento das estrelas, das moléculas, dos corpos. Eu vou a quitanda, compro salvia fresca, morangos, cogumelos. Cozinho alguma coisa. Sim, temos filhos na campaigne, e eles crescem com as bochechas coradas...temos um cachorro, lógico; viajamos para Paris uma vez por mês para comprar livros e vinhos. Não vamos à ópera porque eu detesto ópera (TODO mundo sabe!), mas paramos para ver os balões que voam sobre o Sena e visitamos amigos no Marais.

Putz, quanta imaginação. Definitivamente o pior de viver no século 19 é ser Madame Bovary.