Oficialmente, o festival terminou. Na impossibilidade de escrever com calma sobre tudo o que vi, ouvi e li deixo aqui o meu testemunho subjetivo de cinéfila amadora.
Sim, termino essa jornada feliz. Vi mais filmes este ano ( 6!! ) do que costumava ver nas edições anteriores. Mais importante que isso: gostei _com maior ou menor intensidade, é verdade_ de tudo o que eu vi: incrível! Será que foi sorte, será que aprendi a escolher direito ou será que perdi a capacidade de crítica? Três hipóteses, nenhuma resposta.
A verdade é que além de seis bons filmes, foram seis ótimos programas (cinema é a praia paulista).
Take 1: "John Lennon Contra os Estados Unidos" - Na enorme fila do Cinesesc meu pai me contava suas velhas histórias com aquele cinema (e com aquele bar transparente e esfumaçado que dá de cara para a tela). O documentário é bom, o Lennon é incrível e a trilha-sonora é inacreditável. Saí de mãos dadas com meu pai, com passos leves e a ousadia de Yoko. Naquele momento, poderíamos mudar o mundo.
Take 2: "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias" - Tá certo, eu sabia que o filme do Cao estrearia na semana seguinte, mas o convite para a pré-estréia em plena terça-feira era tentador. Filme ótimo: Brasil dos anos 70: Futebol, AI 5 e a vida provinciana do Bom Retiro... sim, houve a felicidade de sair do cinema ao som de "Tropicália" (numa belíssima versão da Céu) e ver que a Beta estava ali do meu lado, amiga-irmã. Pleno Cinemark do Villa-Lobos, com cheiro gorduroso de pipoca e estacionamentos eletro-eletrônicos ("insira seu ticket ou cartão; o shopping agradece sua visita"). Num movimento de resistência, dançamos na frente do espelho do elevador e tomamos o tão sonhado chopp no Filial. O mundo está cada vez mais à direita, é verdade, mas a loucura nos fará resistir.
Take 3: "After the Wedding" - Quando a gente quer impressionar, não pode fazer feio. Como fui eu que escolhi o filme, rolou um pânico leve quando cheguei à Sala Uol em plena sexta à noite e vi que a sessão estava vazia. "After the Wedding" é um filme sueco, com uma diretora ex-dogma ("Fudeu, escolhi errado, vai ser lento, vai ser horrível. Ele vai me odiar para sempre") ... O resultado foi avassalador: roteiro consistente _uma história que vai e vem entre a miséria indiana e o dinheiro civilizador dos países nórdicos_, bons atores, política e amor em doses adequadas... Na saída ele me olha, me beija, cancela seus compromissos para a gente jantar e discutir o filme ("foi o melhor que vi da mostra", me disse).
Take 4: "Princesas" - O Manu Chao fez uma excelente trilha sonora para este filme sobre prostitutas espanholas. Delicado, sensível, cuidadoso. Tarde de domingo eleitoral (Pode ser que eu escreva sobre as eleições. Mas pode ser que não...) com Julinha, Ana e Bianca para acompanhar o drama destas mulheres incríveis... um universo tão distante do nosso, mas que nos faz questionar contundentemente a nossa condição feminina, as possibilidades da sexualidade. Onde será que mora o equilibrio perfeito entre a freira e a puta? Sim, uma corda-bamba que cada uma aprender a atravessar _ sozinha. Na saída do Reserva, discussões, fofocas e pizzas. Longe das putas; longe das freiras... o Manu Chao ainda na cabeça.
Take 5: "Paris Je T'aime" - Sala UOL. Depois de uma segunda-feira cansativa e emocionalmente complexa, cineminha com a mamãe. 16 curtas-metragens sobre a cidade luz; alguns muito interessantes, outros, nem tanto. Algumas conclusões: a) Paris é mais linda ao vivo do que no filme; b) Paris me assusta nesse momento, com toda sua solidão típica das metrópoles; c)Fazer bons curtas-metragens é mais difícil do que parece d) Não de deve jamais voltar ao local do crime tão rápido. O gosto do café com brownie ainda estava la.
Take 6: "Shortbuss" - No jornal só se falava nisso: conseguiram fazer um filme que é ao mesmo tempo pornô e fofo. Fui conferir, evidentemente. E não é que era, de fato: uma comédia-dramatica-erótica-romantica-divertida. Um amigo gay dos mais mais queridos me convidou para ir e achei a companhia perfeita para este programa (definitivamente não é um filme para levar a mãe, a sogra, o sobrinho...). E lá estivemos nós, Frei Caneca, 23h30... mais divertido impossível. Na correria (sim, sempre atrasada), perdi os 10 primeiros minutos e a famosa cena da "gaveta" (eu também não sabia o que era isso, mas tentem descobrir por conta própria). Melhor frase do filme, sobre as relações amorosas (leia-se putaria) dos anos 2000: "
"It's just like the '60s only with less hope"
Pois sim, nova Mostra só o ano que vem (tem a repescagem, mas a emoção já não é a mesma). Mas os cinemas, pipocas e afetos continuam. Hoje, amanhã, sempre...