Wednesday, April 12, 2006

La vida loca

Eu tinha só 10 anos; talvez 11. O pai do meu melhor amigo dirigia um porche vermelho conversível por uma grande avenida paulistana; era sábado, talvez domingo.

Eu ia sentada no banco da frente, ao lado dele, com os cabelos tomando vento. O destino não era a California, mas o Playcenter, ali na ponte do Limão. (Não havia Hopi Hari e ir ao playcenter era o melhor programa que uma menina de 11 anos podia conceber).

Foi ali que eu entendi que a minha chamada adolescencia começava. O Aerosmith cantava "Crazy" no rádio (sim, senhores, era o fatídico ano de 1994) e me lembro perfeitamente de sentir o carro correr, respirar fundo e decidir "Quero uma vida muito cheia de aventuras". O mundo se abria na frente, e ele podia ter a adrenalina de uma montanha-russa dessas que a gente ia, tremendo de medo.

Lembrei disso domingo. Depois de um filme europeu com a Clara, algumas cervejas importadas e boa conversa, fomos parar na Loca, à 1h da manhã. New Order no som, altas doses etílicas, gente cheirando a suor e sexo naquele porãozinho esfumaçado da Frei Caneca. Depois de deixar um rapaz em casa, às 4h30, voltei dirigindo sozinha pela madrugada...

não havia porche, não havia Aerosmith, não havia Playcenter; mas havia aquela mesma menininha que um dia decidiu que tudo tem que ser pra valer, que tudo tem que ser intenso, louco, alucinado.

É esse o feeling que eu não quero perder nunca, esse é o feeling que eu tento segurar com todas as forças mesmo com o stress da Barão de Limeira, com a fila de 40 minutos na Caixa Econômica, com a chatice das burocracias. Uma hora dessas vou pegar um avião e vou sumie para Barcelona... vou deixar a Folha falando sozinha e vou brincar de ser louca em outro lugar.
Uma hora dessas.

Por hora, a mesma adrenalina da montanha russa, o medo todo; por que o rapaz não me ligou ainda?

Sunday, April 02, 2006

Um minuto de silêncio

Por tudo, por nada.
Pelas semanas que começam e terminam e começam. Sem , às vezes, eu me dar conta.

Miséria nas ruas (um menino preto me pede moeda, depois uma velha com rugas, depois um homem sem pernas. Eu, branca, sem rugas, com pernas, desfilo com meu pejeaut rumo a um vernissage. Silenciosa, concluo que a arte não pode salvar o Brasil, nem o mundo; pode só promover cerimonias levemente cínicas regadas a bom champagne; des illusions perdues)

Cidade grande. Vazios das avenidas, sertões de lá de dentro da alma (escuros). Amores vadios, desamores, vácuo de afetos? Concreto dos prédios, luzes brancas. Cimento e ciúme. Só.

Trecho do "Grande Sertão":

"Como é que se pode gostar do verdadeiro no falso? Amizade com ilusão de desilusão. Vida muito esponjosa. Eu passava fácil, mas tinha sonhos que me afadigavam. Dos de que a gente acorda devagar. O amor? Pássaro que põe ovos de ferro. Pior foi quando peguei a levar cruas minhas noites, sem poder sono. Diadorim era aquela estreita pessoa _ não dava de transparecer o que cismava profundo, nem o que presumia. Acho que eu também era assim. Dele eu queria saber? Só se queria e não queria."'

Hoje Ney Matogrosso canta Cartola no meu rádio "... na madrugada iremos para casa cantando". O mundo é um moinho? Acontece. O chamado "minuto de silêncio" dura já muitos dias. Mas termina, eu sei. E quando os silêncios terminam, começa o tempo das canções... é preciso esperar para ouvir. Os sinos.