Tuesday, January 23, 2007

Distancia uruguaia

Fugir do mundo e cair em si. Imersoes profundas em teorias da arte e psicanálise; para quando? para que? ou para quem? (nesse mundo de conceitos, so a vontade de ler Proust).

A vista para o mar, a agua gelada, o desanso. A ameixa vermelha que escorre e mancha meus dedos... o sono profundo, pesado, os sonhos.

O sabor do doce de leite, o cheiro da grama, senhoras argentinas com suas sobras de colares e gorduras a transbordar dos maios floridos, rendados; criancas que ate brincam na areia... (Fome sem fome e paz sem paz).

Sim. A imensidao do Atlantico. As aguas que banham as minhas coxas brancas na barra de Maldonado banham pernas e braços imersos em ondas de Lisboa, Ubatuba e Copacabana...

Por hora, so a constatacao futil, sutil, irredutivel: nao tenho acentos no meu teclado

Wednesday, January 17, 2007

Questáo ética

Pode um médico oferecer um remédio que alivia a dor, mas que a médio prazo agrava a doença?

Sunday, January 14, 2007

Sim.

E era só um passar da tarde, simples tarde. E era só tomar um suco. Um suco. Um suco, um homem de olhos redondos. E uma mulher calada, que sorri. Uma mulher triste que se procura e se encontra no olhar do outro, no olhar daquele homem de olhos redondos.
E era só andar pelas ruas na simples tarde, tarde. E era só um contar de novidades, novidades grandiosas, novidades menores, pequenas idéias. E era só o dar as mãos, as mãos dadas, apertadas, juntas. Só.
E assim eram só as palavras, engolidas, remoidas, engasgadas. Torrentes de palavras quantas tantas noites medidas, ensaiadas, ponderadas, esmiuçadas. E eis que não havia nada para dizer.

Havia então a tarde que caia. O céu que ficava um pouco alaranjado, e róseo, e avermelhado sobre o concreto cinzento. E sob o concreto cinzento, um vagão de metrô que balançava, sacudindo os corpos cansados. E eis que que então uma mulher feliz, absolutamente feliz. Que se procura e se encontra no abraço do homem, no beijo do homem de olhos redondos.

E quando a tarde cai eles estão parados sobre um viaduto no Centro da cidade, com vista para os carros que passam embaixo, e uma brisa leve que bagunça os cabelos. A luz do fim da tarde deixa tudo amarelo, dourado . E ela é só uma menina com a inocência de um Pequeno Príncipe olhando os astros no ceú. Está tão feliz e tão assustada que sorri um bocado e chora um pouco. "Veja, eu pareço uma criança". O homem de olhos rendos lhe sorri, sentido. E aquela tarde efetivamente termina.

Não, não havia nada a dizer. O encantamento do mundo, do olho, da mão, do homem extrapola qualquer palavra. A noite caiu e aquela mulher feliz-triste aos extremos se despede e se prepara para o novo recolhimento, para o novo casulo, para um novo espelho. A alegria incomensurável do amor e, desde o primeiro momento, a assustadora dor da falta. Reinventar-se.

Friday, January 12, 2007

Citação roubada

Um ilustre desconhecido visitou meu orkut.
Roubei do perfil dele uma citação fantástica (a Alice Ruiz, se não me engano, é grande amiga da Mariah...)

"lembra o tempo
que você sentia
e sentir
era a forma mais sábia
de saber
e você nem sabia?"
(Alice Ruiz)

Já valeu a visita.

Wednesday, January 10, 2007

Da série "Matérias que não fiz"

OK, pessoal, já é 2007. Uma vez superada _nunca totalmente_ a fossa político-amoroso-existencial, volto a falar do mundo. Que venha o mundo!

Estréia amanhã uma comédia americana chamada "Uma Noite no Museu". Não vi o filme, mas me soa como uma espécie de "Jumanji" ou uma destas aventuras imbecis que Holliwood adora inventar para pessoas se entupirem de pipoca com manteiga nos cinemarks do mundo inteiro (amargura, eu?).

A sinopse, em poucas palavras: um segurança noturno de um museu de história natural que vê as criaturas "ganharem vida" durante a noite. Original e brilhante. Sensibilidades a parte, enfim, recebo um pedido da editoria para entrevistar seguranças noturnos de museus paulistanos.

Aí sim começa a ficar interessante. Tenho um verdadeiro fascinio:
a) Por entrevistar qualquer pessoa que não seja um curador, entendido, especialista ou o caralho
b) Por entrevistar pessoas que levam vidas diferentes/esquisitas, fora deste nosso mundinho uspiano que abrange dois ou três bairros paulistanos.

Mas eis que os dois museus procurados _MASP e Pinacoteca_ não autorizam a entrada desta jornalista alegando que os seguranças "não estão aptos a falar e tem medo de ver sua segurança posta em risco". Gente, o mundo corporativo é assustador! Como assim, não estão aptos? Qualquer pessoa, a exceção dos mudos, está apta a falar (vejam "Edificio Master", do Coutinho)...

A verdade é que não acho que os museus paulistanos tenham medo de ver seus brilhantes esquemas de segurança desmoronarem. Acho, sim, é que tem medo de qualquer matéria jornalística que fuja do elementar "abre hoje, com curadoria de fulano, a exposição blábláblá". Em qualquer área, um bom jornalista precisa necessariamente ir além destas merdas, destes releases reescritos. É preciso investigar, driblar, criar, reagir.

Agora vem a pergunta: Por que não faço isso? Poderia dar plantão na porta do Masp, seguir os seguranças, entrar no ônibus junto com eles às seis da manhã, puxar papo como quem não quer nada, ser convidada para tomar um café junto com a mulher e os filhos do dito cujo. Esse é o jornalismo dos meus sonhos. Aquele que não passa pelos assessores de imprensa, nem pelos superintendentes, nem pela burocracia institucional. Mas para isto é preciso ter tempo. Não dá para fazer uma matéria como esta trabalhando dez horas por dia na redação. Por isso é que os repórteres precisariam levar outro tipo de vida, com mais liberdade de circulação, com mais tempo para exclusivas... mas aí o jornal teria de contrar mais gente. E tudo o que se quer é cortar custos.

Temos, então, duas estruturas corporativas (museu e jornal, neste caso) que se retroalimentam dentro de sua mediocridade. A imprensa, que teoricamente teria um papel formador, crítico e por aí vai, se torna essa grande desfilar de produtos da indústria cultural. E o leitor, condenado a mediocridade, vai ao cinema, assistir a essas e outras produções da genialidade holliwoodiana.

Monday, January 08, 2007

Silêncio

Eu sei de tudo na ferida viva do meu coração.