OK, pessoal, já é 2007. Uma vez superada _nunca totalmente_ a fossa político-amoroso-existencial, volto a falar do mundo. Que venha o mundo!
Estréia amanhã uma comédia americana chamada "Uma Noite no Museu". Não vi o filme, mas me soa como uma espécie de "Jumanji" ou uma destas aventuras imbecis que Holliwood adora inventar para pessoas se entupirem de pipoca com manteiga nos cinemarks do mundo inteiro (amargura, eu?).
A sinopse, em poucas palavras: um segurança noturno de um museu de história natural que vê as criaturas "ganharem vida" durante a noite. Original e brilhante. Sensibilidades a parte, enfim, recebo um pedido da editoria para entrevistar seguranças noturnos de museus paulistanos.
Aí sim começa a ficar interessante. Tenho um verdadeiro fascinio:
a) Por entrevistar qualquer pessoa que não seja um curador, entendido, especialista ou o caralho
b) Por entrevistar pessoas que levam vidas diferentes/esquisitas, fora deste nosso mundinho uspiano que abrange dois ou três bairros paulistanos.
Mas eis que os dois museus procurados _MASP e Pinacoteca_ não autorizam a entrada desta jornalista alegando que os seguranças "não estão aptos a falar e tem medo de ver sua segurança posta em risco". Gente, o mundo corporativo é assustador! Como assim, não estão aptos? Qualquer pessoa, a exceção dos mudos, está apta a falar (vejam "Edificio Master", do Coutinho)...
A verdade é que não acho que os museus paulistanos tenham medo de ver seus brilhantes esquemas de segurança desmoronarem. Acho, sim, é que tem medo de qualquer matéria jornalística que fuja do elementar "abre hoje, com curadoria de fulano, a exposição blábláblá". Em qualquer área, um bom jornalista precisa necessariamente ir além destas merdas, destes releases reescritos. É preciso investigar, driblar, criar, reagir.
Agora vem a pergunta: Por que não faço isso? Poderia dar plantão na porta do Masp, seguir os seguranças, entrar no ônibus junto com eles às seis da manhã, puxar papo como quem não quer nada, ser convidada para tomar um café junto com a mulher e os filhos do dito cujo. Esse é o jornalismo dos meus sonhos. Aquele que não passa pelos assessores de imprensa, nem pelos superintendentes, nem pela burocracia institucional. Mas para isto é preciso ter tempo. Não dá para fazer uma matéria como esta trabalhando dez horas por dia na redação. Por isso é que os repórteres precisariam levar outro tipo de vida, com mais liberdade de circulação, com mais tempo para exclusivas... mas aí o jornal teria de contrar mais gente. E tudo o que se quer é cortar custos.
Temos, então, duas estruturas corporativas (museu e jornal, neste caso) que se retroalimentam dentro de sua mediocridade. A imprensa, que teoricamente teria um papel formador, crítico e por aí vai, se torna essa grande desfilar de produtos da indústria cultural. E o leitor, condenado a mediocridade, vai ao cinema, assistir a essas e outras produções da genialidade holliwoodiana.